quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Um fato verídico



Recentemente, um novo funcionário foi transferido para o setor onde eu trabalho. Tratarei de chamá-lo por Akira, pois não convém citar o nome real.
Akira aprendeu com os brasileiros muitas palavras sobre o português, a respeito de coisas boas e más. Logo se sentiu à vontade com os brasileiros e passou a fazer muitas amizades.
Ao logo de alguns meses, Akira passou por uma cirurgia, está bem de saúde, mas não poderá andar de bicicleta por algum tempo, então passou a ir à pé ao trabalho.
No caminho de volta, acabei descobrindo que Akira mora na mesma via que utilizo diariamente, então resolvi dar uma carona (diária), no caminho de volta para casa. Logo percebi que tínhamos alguns assuntos em comum, então passamos a conversar sobre os acontecimentos gerais, onde fiquei sabendo da verdadeira profissão de Akira.
Chefe de cozinha! Akira é um profissional na área da alimentação. Já trabalhou em vários hotéis importantes da cidade como cozinheiro chefe. Com o logo dos anos, deixou de ser empregado para abrir seu próprio negócio, que não teve muito sucesso, e devido à crise financeira mundial, Akira foi obrigado a fechar.
Então foi assim que Akira veio trabalhar no ramo de auto-peças, contando, embalando e registrando os pedidos.
Ao saber disso lhe perguntei o motivo de não querer mais continuar no ramo, e Akira disse que não queria mais passar por todas as dificuldades que um cozinheiro passa, mesmo com um bom currículo e tempo de experiência, é preciso passar por muitas provas e se dedicar muito tempo para que se consiga alcançar novamente o cargo de chefe. Entendo bem o que Akira quer dizer, afinal em meu ramo, (capoeiragem) é necessário o mesmo esforço para se adquirir algum respeito.
Há alguns dias atrás, no caminho de volta para casa, Akira me disse que recebera um convite para um casamento, de um rapaz que foi seu aluno de culinária. Devido a distância, Akira planejou enviar apenas um envelope com dinheiro, agradecendo pelo convite. Mas ao anunciar sua decisão ao seu ex-aluno, o mesmo insistiu muito e disse que já havia reservado um quarto privilegiado no hotel em que trabalhava, e que Akira não poderia deixar de comparecer, não importando o motivo. Akira que se sentiu sem saída, foi de carro e percorreu 850 km até o local do casamento. Lá chegando se deparou com uma enorme surpresa: seu ex-aluno de culinária, se tornara o chefe de cozinha deste hotel e tinha sob seus comandos uma equipe de cinquenta cozinheiros! Akira ficou muito feliz, uma vez que ele tinha sido o único professor de culinária daquele rapaz.
Akira ficou no hotel por dois dias, e acompanhou todos os preparativos da festa de casamento de perto, com a seriedade do verdadeiro chefe. Uma vez que Akira tinha sido professor do chefe de cozinha daquele hotel, os cinquenta cozinheiros que tratavam da organização, o tratavam com muita veneração e respeito. Akira disse-me que sentira mais uma vez o verdadeiro valor de seu conhecimento.
No último dia em que Akira se preparará para retornar, seu ex-aluno lhe preparou um jantar surpresa, que foi servido na suíte, com todos os méritos de um verdadeiro mestre. Akira fez a refeição toda em silêncio e experimentara todos os sabores servidos à ele. Enquanto comia, seu ex-aluno e alguns cozinheiros, ficaram em volta observando calmamente e aguardando Akira terminar sua refeição. No final, todos permaneciam em silêncio, e seu discípulo finalmente pode perguntar-lhe com muita apreensão: O que achou do sabor?
Akira sem olhar para seus olhos, pois estavam umedecidos, respondeu que sim! Estava perfeito!
Neste momento, Akira me jurou que foi sincero, pois teria que sê-lo mesmo que o sabor estivesse ruim, pois só assim seu aluno chegaria a perfeição.
Enfim, Akira se virou naturalmente e viu seu ex-aluno e alguns cozinheiros chorando de emoção. Logo Akira também se comoveu, e viu o quão foi importante ensinar calmamente aquela pessoa, mesmo não sabendo que rumo teria ela.
Tudo se passou e Akira voltou, muito feliz de não ter desmarcado esse encontro que para ele foi muito importante. Akira também me contou que depois do jantar, ele e seu ex-aluno sentaram-se para conversar sobre o longo tempo em que não estiveram juntos. Seu aluno empolgado, começou a conversa lhe contando como se tornara chefe daquele famoso hotel, suas responsabilidades e carga horária, também disse que recebia um pagamento que lhe era justo. Nada menos que 600 mil ienes mensais!!!
Akira se assustou! E logo em seguida, seu aluno quis saber, onde seu estimado professor estava trabalhando e quanto ganhava. Neste momento, Akira me disse que nunca sentira tanta vergonha em sua vida, em dizer que estava trabalhando em uma fábrica de auto peças, ganhando cerca de 180 mil ienes por mês, e ainda com muita hora extra. Akira sabe que não há nada de vergonhoso nisso. O que sentiu, foi em relação ao que Akira já tinha sido, ao que já tinha possuído na vida, graças ao seu conhecimento culinário. Akira sentira vergonha diante da expressão que seu aluno fez quando ouviu a notícia. Logo o mesmo lhe convidou a ir trabalhar para ele (em uma inversão de papéis), Akira passaria a ser o funcionário daquele que ensinara tantos anos. Com o orgulho afinado de todo profissional, Akira recusou e voltou para sua realidade atual, aquela que ele aceitou por força dos acontecimentos.
Penso diariamente qual o verbo que deveria ter mais influência em nossas vidas, o verbo ¨ter¨ ou ¨ser¨?
Ter dinheiro, ter carro novo, ter tudo, será o caminho de uma vida feliz? ou ¨Ser¨ alguém na vida nos traria mais felicidade?
Pensem e me digam a resposta, pois ainda não a encontrei.

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